sexta-feira, 11 de setembro de 2009

RENDEIRAS CEARENSES: LUTA, GARRA E POUCA REPRESENTATIVIDADE



As rendeiras do estado do Ceará construíram uma imagem de eximias artesãs mundialmente. Em meados de 1748, a Europa recebe as primeiras rendas do Ceará. No inicio, tudo não passava de uma maneira das mulheres de pescadores, em sua grande maioria, e de camponesas expressarem sua arte e assim ajudarem no sustento da família. Por ser uma arte que demande tempo e uma certa competência de quem faz, as mães logo tratavam de ensinar as filhas, para que desta forma pudessem ajudar no sustento da casa e quando casar poder dar continuidade nessa formação e ensinar suas filhas.

As rendeiras utilizam-se apenas de seu almofadão, no qual fica pregado um cartão furado com o desenho da renda que se pretende fazer, alfinetes do espinho do mandacaru, para prender a renda, e os bilros de madeira, além de três caroços de macaúba onde são enrolados os fios. Os principais municípios exportadores de renda do Ceará: Aquiráz ( à 27 km de Fortaleza), Acarau ( à 255 km de Fortaleza) e Trairi ( à 128 km de Fortaleza), são exemplos de determinação e incentivo do progresso da cultura da renda.

O panoroma atual da renda cearense vem perdendo um pouco do seu espaço de comercialização e de meio de sustentabilidade, para apenas uma forma de interação com um passado de glória e de uma intensa e valorizada procura pelos produtos.

Segundo a entrevistada Maria das Graças Moreira, rendeira de bilro, que utiliza-se da arte desde os sete anos de idade como forma de sustento da família, a renda cearense perdeu muito quando a forte incentivadora, Luiza Távora, morreu. Com sua ajuda as rendeiras sempre participaram de muitos eventos nacionais com todas despesas pagas, vislumbrando uma interação saudável e satisfatória entre as muitas rendeiras do Brasil e, desta forma, aumentando a capacidade artística com a apreciação de novas formas e tendências de desenhos e cores.




Apesar de hoje existir um sindicato, que tem toda uma infra-estrutura para mobilização de projetos para dar continuação aos iniciados por Luiza Távora, começou uma estagnação da comissão, que não encaminha novas propostas e não revitaliza os centros comerciais das rendeiras, não criam novos monumentos para o artesão em geral e nem muito menos mobiliza comissão para as feiras nacionais de arte.
Para driblar esta situação, Maria das Graças, por sua própria conta atua como professora de crianças, para que a arte das rendeiras, não se torne apenas uma história contada por museu e sim presenciada por todos que fazem parte da sociedade, por varias gerações. A rendeira questiona como o governo e a prefeitura não utilizam verbas e criam escolas para a divulgação e perpetuação desta arte, que é tão característica da sociedade cearense .

Tradição x Industrialização

Além de se preocuparem em dar continuidade a essa cultura, as rendeiras cearenses ainda tem de encarar o novo ‘‘vilão’’ do artesão, a industrialização.Com a implementação de novas tecnologias, muitas peças que antigamente exigia a presença do homem, agora é feito pelas máquinas em tempo recorde e além de tudo com ‘‘perfeição’’. Muitos questionam as peças industrializadas por sua dita perfeição, geralmente para se ter um preço competitível com os concorrentes utilizam-se de matéria-prima de baixa qualidade, assim tornando as peças mais vulneráveis. Para a grande maioria dos consumidores ainda é uma incógnita a diferença entre a peça manual e a industrializada.É só prestar atenção no verso da peça e procurar por nós no fim de cada ponto, se tiver, é uma peça de artesão, caso não tenha, é industrializada.

Para Jorge Costa Lima, vendedor e esposo da rendeira Elma Costa, a renda industrializada só veio a alavancar uma procura pela renda verdadeira, pois a baixa qualidade das rendas industrializada e o seu pouco prestigio, levou a um crescimento das vendas por parte dos comerciantes de renda. O comerciante ainda afirma que para muitos a verdadeira renda tem seu valor cultural e patrimonial e isso leva a uma procura pela sua utilização nas mais variadas modalidade da moda, que vai desde peças de roupas a manta para sofás.

O comerciante de peças artesanais e industriais, Wladerson Kelsen, julga que existe hoje uma integração das duas técnicas, a manual e a industrial, mas a procura sempre está crescente para a renda manual. Ele nos informa que a melhor renda hoje é a renascença, que é original de Recife. Para ele a industrialização veio como uma maneira de aquecer ainda mais o comercio. Normalmente uma colcha de cama leva oito meses para ser terminada por uma rendeira (R$800,00), a mesma colcha leva alguns minutos para ser concluída pela máquina (R$150,00). As diferenças estão no acabamento. O da máquina é de perfeição na frente e de uma total deformidade no verso, já no manual, uma boa rendeira deixa sua peça uma perfeição no geral. A qualidade é incomparável com a outra, devido a sua matéria-prima ser de boa qualidade, enquanto na industrial isso é raro, pois a lei da oferta e da procura força o produto a ter uma redução de custos, assim levando a uma queda no preço de venda .



Falta de Reconhecimento


A maior parte dos problemas enfrentados pelas rendeiras , seria a impossibilidade de se aposentar, pois esta não é uma profissão reconhecida como tal para fins de aposentadoria. Hoje em dia muitas trabalham apenas pelo prazer de confeccionar peças que levam sua marca, que durante muito tempo é tida como um ofício de poucos, devido a sua imensa complexidade. Aprender e fazer, qualquer um pode, mas com um acabamento primoroso e respeitado é tarefa completada por poucos.

O comerciante Jorge, cita como uma das principais saídas para a ampliação do campo das rendeiras, a elaboração de um projeto consistente que seja apresentado ao presidente Lula. Segundo ele, o mesmo é uma pessoa muito solidária com a minoria social. Não adianta apenas passar pelo Mercado Central de Fortaleza no período das eleições, como fazem os políticos regionais, tem que haver uma integração durante todo o ano, assim construindo uma base sólida e sem interesses políticos e sim sociais. Mas como podem cobrar se o sindicato é o primeiro a se acomodar e não contribuir com vigor ?

Fotos: Alberto Gurgel

Um comentário:

  1. O texto ficou bem longo para a web. Você poderia ter dividido em textos menores para chamar mais a atenção dos leitores.

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